Os meninos da ASAE
Estão a deixar-me intrigada
Ou a lei está mal feita
Ou é mal executada.
Passam tudo a pente fino
Não sei que tanto farejão
Até posso vender tudo!
Só preciso é que não vejam!
Tem que deitar isto fora;
Por quê? se não está estragado!
Ou eu cheguei na hora certa!
Ou estava no sitio errado?
E lá levarão o presunto
Que o dono tinha comprado
Eu gostava de ajudar à festa!
Só que eu não fui convidado!
Se querem mesmo trabalhar
Comecem p'lo sitio certo
Descargas que matam tudo!
Esgotos a céu aberto?
Deitar bons produtos fora
Só quem não tem coração
E não sabe o que é ouvir
Chorar os filhos sem pão
São ágeis e habilidosos
Pensam que nada lhes escapa
Mas por favor; tenham dó,
São mais papistas que o Papa?
È bom que ninguém se iluda
fica só a intenção
Só pescam arraia miúda
Nunca chegam ao tubarão
Não sei qual é a ideia
Que agora tudo faz mal
Querem ver que já não posso
Comer couves do meu quintal?
Pobreza, chega a que temos
Cada vez mais bate à porta
Deixem lá os pobrezinhos
Comer o que colhem na horta!
Tem que haver regras, e controle
Para saber o que se consome
Mas quem fez leis tão severas
Nunca soube o que era fome?
Com tantos cuidados que há
Não há razão para censura
Mas ninguém fica por cá!
Se não morrer do mal, é da cura!
Afinal quem é a lei?
Não tem rosto, não tem voz:
Se quem a faz, não a cumpre;
O que é que esperam de nós?
Isabel Gaudêncio